Quantas expectativas uma sociedade patriarcal impõe sobre as mulheres? Santa ou Put?* Essa é a dualidade central que permeia o livro da escritora e pedagoga Maria Luiza Wiederkehr, uma obra que desafia os rótulos simplistas e incentiva as mulheres a se libertarem das amarras impostas pela sociedade.
O título do livro é uma provocação, uma metáfora para os papéis limitadores que tantas vezes se aplicam à liberdade sexual e comportamental feminina. A autora propõe uma reflexão sobre amor-próprio, autenticidade e a necessidade de se reconectar com a própria essência.
Em meio a relatos pessoais e poesia, Wiederkehr nos convida a repensar o feminino em sua profundidade, explorando o autoconhecimento e os desafios de ser mulher no contexto atual.
A Dualidade Feminina em “Santa ou Put”: Desconstruindo Estereótipos
Maria Luiza Wiederkehr questiona a rigidez dos estereótipos impostos às mulheres, que, historicamente, foram definidas por características dicotômicas: ou são percebidas como “santas” e submissas, ou como “putas” e transgressoras. O título polêmico evidencia essas expectativas extremas, propondo que as mulheres encontrem sua verdadeira identidade, sem serem categorizadas. O livro traz, assim, uma reflexão sobre como o feminino é visto e julgado, sobretudo quando ele se atreve a ser livre.
A autora encara essa luta interna e social através do exemplo de uma personagem que representa muitas mulheres divididas entre os papéis de mãe, filha, esposa, amiga e profissional. Ela se vê presa às cobranças sociais, ao medo da crítica, e, sobretudo, ao desafio de equilibrar os próprios desejos com as exigências externas. Em sua trajetória, Maria Luiza propõe o rompimento com os rótulos e encoraja uma vida vivida por inteiro, sem concessões aos julgamentos alheios.
Uma Jornada de Autoconhecimento e Transformação
A narrativa da protagonista reflete uma busca profunda por autoconhecimento e libertação das expectativas. Em um ponto decisivo, a personagem decide viajar sozinha, um ato simbólico de desligamento dos papéis impostos e uma tentativa de redescoberta. A viagem representa um afastamento das amarras sociais e a coragem de explorar quem realmente é, sem as pressões da maternidade, do casamento ou das relações profissionais.
"Queria me preservar, preencher meu ser de tranquilidade para que pudesse me transformar... A viagem era para me conhecer como mulher.” (Santa ou Put?, pág. 36)*
A citação nos leva à intimidade da personagem, que busca se redescobrir enquanto mulher e descobrir a profundidade dos seus próprios medos e seu potencial. Esse trecho é um exemplo claro de como o livro utiliza uma linguagem poética e introspectiva para conectar a experiência individual com os desafios enfrentados por muitas mulheres.
Reflexão, Poesia e Culinária: A Expressão Artística e Íntima do Livro
O livro de Maria Luiza Wiederkehr não se limita apenas ao texto; ele é também um convite à arte e à expressão emocional. Ao longo das páginas, a autora insere ilustrações feitas à mão, que acompanham as reflexões e poesias, e que refletem seu olhar pessoal e sua relação com o feminino.
Além disso, o último capítulo traz receitas de pratos caseiros, que remetem a momentos afetivos, como a preparação de pães, quindins e até mesmo um “Risoto da Sabedoria” para compartilhar a dois, reforçando a conexão entre a cozinha, o autocuidado e o cultivo do amor.
Essas receitas e o uso de ilustrações estabelecem uma atmosfera leve e íntima, proporcionando um respiro ao leitor e revelando o lado multifacetado da feminilidade. A culinária, nesse contexto, representa o ato de nutrir o corpo e o espírito, um ritual de autocuidado e expressão.
Culinária como Conexão e Autocuidado
A proposta de incluir receitas no livro é uma maneira de celebrar as tradições e o afeto que vêm com a partilha de refeições. Em uma sociedade onde a pressão por produtividade é intensa, cozinhar com calma e amor é um ato revolucionário de autocuidado. Ao convidar o leitor para experimentar o “Risoto da Sabedoria” ou a “Caipirinha Brasileira”, Maria Luiza convida todos a se conectarem com suas raízes e a valorizarem momentos de presença.
"Santa ou Put*?" é um chamado para a autenticidade e a liberdade de ser mulher em todas as suas formas. Através de uma escrita envolvente e ilustrativa, Maria Luiza Wiederkehr desafia os rótulos e convida não só as mulheres, mas também os homens, a repensarem suas visões sobre o feminino e o papel da sensibilidade em suas vidas.
Com uma abordagem delicada e, ao mesmo tempo, contundente, a autora revela que ser mulher é experimentar o mundo com profundidade, autenticidade e coragem.
O livro é uma provocação para todos que buscam se libertar dos julgamentos e estereótipos, oferecendo uma jornada de autoconhecimento e acolhimento da própria essência. Afinal, quantos rótulos uma mulher realmente precisa ter? Maria Luiza Wiederkehr nos mostra que, acima de tudo, o que mais importa é a liberdade de ser quem realmente somos.
Acredito que seja um livro super interessante de ler
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Saudações cordiais e poéticas.
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Gracias por la reseña. Te mando un beso.
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